Hospital São Francisco Xavier
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Hospital São Francisco Xavier - Reclamação relativa ao serviço de urgência

Sem resolução
Magda Santos
Magda Santos apresentou a reclamação
5 de janeiro 2019 (editada a 14 de janeiro 2019)
Exmos. Senhores Administradores do Hospital Sao Francisco Xavier,

Esta reclamação surge no seguimento de um episódio ocorrido a partir do dia 10 de Novembro de 2018, no serviço de urgência deste hospital. Escrevo agora, pois só neste momento me senti em condições emocionais para o fazer. Pretendo relatar os factos, sem deixar que a vertente emocional tome conta destas minhas declarações. Foi por esse motivo que só agora o fiz.
Não sendo a minha formação académica a área da saúde, peço desde já desculpa se algumas das expressões utilizadas não forem percetíveis ou bem explícitas, e coloco-me desde já ao dispor para melhores esclarecimentos através do e-mail: xxx ou telefone xxx.
Passemos aos factos:
Sábado 10/11/2018
O meu pai deu entrada no serviço de urgência cerca das 8:00h. Motivo: Queda em casa, causada por alucinações visuais e auditivas. Tentou subir a um banco referindo que via “fumo” numa das divisões do quarto e subiu a um banco para ver do que se tratava. No estado debilitado em que estava, após ter terminado (há cerca de 1 mês) 32 tratamentos de radioterapia e 8 de quimioterapia, motivados por uma doença do foro oncológico, caiu, e ficou muito queixoso de uma das pernas. Os bombeiros foram chamados ao local e foi de imediato transportado ao hospital SFX. Após realização de RX, fomos informados de não existia qualquer problema e que as dores estariam a decorrer apenas pelo facto de ser encontrar dorido. Tem alta por parte da equipa de ortopedia. A verdade é que as dores persistiam e acentuavam-se aquando da mobilização da perna. Realizou entretanto análises sanguíneas que revelaram uma infeção urinária e falta de magnésio, quadro que poderia estar a motivar esta dita “confusão mental”. No período da tarde consegui falar com a chefe médica do serviço de urgência para melhores esclarecimentos. Reportou-me que as alucinações (nunca antes ocorridas) seriam eventualmente um episódio isolado de confusão mental, decorrente da infeção urinária observada. Por outro lado, não excluiu a hipótese das alucinações serem consequência da doença do foro oncológico, levantando a hipótese de metástases cerebrais.
Foi administrado antibiótico para a infeção urnária e sugerida alta com continuação do tratamento em casa. A verdade é que as alucinações continuavam (auditivas e visuais) e expliquei que não me sentia confortável em trazer o meu pai para casa neste estado. Tinha receio que outro episódio pudesse voltar a acontecer e que as consequências fossem ainda piores. As dores na perna, escusado será dizer, também persistiam. Suspeitando-se de metástases cerebrais, questionei a possibilidade de realização de uma TAC. Fui informada que o equipamento estaria avariado neste hospital e que a única possibilidade para a realização do exame seria a deslocação ao hospital Egas Moniz. Informaram-me no entanto que seria um processo demorado e que não poderia ser administrado contraste, pelo que o exame poderia não ser conclusivo.
Insisti ainda assim, para que o fizessem. Precisávamos ter a certeza do que se passava realmente e o que estava a motivar estas alucinações.
O meu pai passou a noite no hospital, no serviço de urgência, aguardando que no dia seguinte fosse transportado ao Hosp. Egas Moniz para realização da TAC (não souberam indicar um horário, teria de esperar até existir transporte disponível).
Entretanto, durante esse período, foi administrado paracetamol para as dores, mantido o antibiótico, mudanças de fralda que implicavam logicamente movimentações e em que poderiam ouvir-se os seus gritos de dor sempre que existia toque na perna. Continuei a achar o quadro estranho. De referir também que o meu pai tinha uma sonda no estomago (PEG) e a sua alimentação era efetuada por via entérica. No hospital não tinham forma de o alimentar pois não tinham o modelo/referência do “tubo” que ligava ao botão que o meu pai tinha colocado. Pedi à minha Mãe que o trouxesse, de outra forma não poderia alimentá-lo. Refiro ainda que o meu pai era diabético insulinodependente. Acompanhei-o sempre no serviço de urgência e sempre me disponibilizei a alimentá-lo por forma a “libertar” o trabalho dos senhores enfermeiros. Os senhores enfermeiros, sempre me referiam que as dores eram normais referindo a frase: “É normal, coitadinho… Ele está muito magrinho e ficou muito dorido. Mas esteja descansada que não existe nada partido nem fraturado! É uma questão de esperarmos que os medicamentos façam efeito. ”
Domingo 11/11/2018
Os bombeiros chegam para transportar à TAC cerca das 17.30h. Transfer para mobilização para a ambulância, dores constantes.
Não me foi possível acompanhar na ambulância. Esperei pela sua chegada no hospital, que ocorreu pelas 21h. Relembro que o meu pai era diabético e alimentado por via entérica. Mantive-me sempre preocupada pelo facto de passar tantas horas sem ser alimentado. O soro não foi levado durante o transporte.
Pelas 22h consegui falar com o médico de urgência (já outro médico) que estava a acompanhar o caso. Referiu que a TAC realizada não revelou qualquer alteração. Sugere alta e manutenção do antibiótico em casa. Fiquei aliviada pelo fato de não ter sido revelada qualquer alteração ao nível cerebral mas a verdade é que as alucinações continuavam. Ainda assim, o médico refere que pouco havia a fazer. Insisti para que visse perto do meu pai para assistir às suas alucinações e para que me explicasse como poderia tratar dele em casa. O meu pai, quando questionado, revelou ao Dr. Que se encontrava em Madrid e que via muitos bichos na cama. Apelando à sua consciência, o médico acaba por concordar comigo, que seria complicado levá-lo para casa nestas condições de dor e alucinação. Ficou então combinado que no dia seguinte seria visto por uma equipa de psiquiatria. Mais uma noite no serviço de urgência.
Segunda-Feira 12/11/2018
Alucinações e dores continuam.
Não cheguei a perceber se foi ou não avaliado por psiquiatria. Fui informada que a equipa decidiu realizar nova TAC, desta vez com contraste. Nova deslocação ao Hospital Egas Moniz. Transferência de Maca, dores… Pelo que me recordo a TAC foi efetuado pelas 15h. Aguardei a sua chegada. Pelas 19h percebo que a cama que o meu Pai ocupava no serviço de urgência já havia sido ocupada por outro utente. Achei estranho. Entretanto percebo que os senhores enfermeiros não sabiam do paradeiro do meu pai. Fiquei a observar uma espécie de reunião que se gerou para tentar perceber onde ele se encontrava. Como podem calcular, o meu sistema nervoso disparou, ainda assim, tentei manter a calma e em momento algum fui indelicada. Uma auxiliar é questionada sobre onde teria deixado o doente. Responde: “O da PEG?? Acho que ficou no serviço de Trauma… Deve ter ficado lá por engano.” O meu ritmo cardíaco acelerou. Desloquei-me até aos profissionais em questão e perguntei afinal o que se passava. Disseram-me que de facto tinha ocorrido um equívoco e que tinha sido deixado noutro serviço. (Na realidade não sei quanto tempo lá ficou). Disponibilizei-me de imediato a procura-lo pelo hospital. Referiam não ser necessário e que tudo se iria resolver. Como é possível, uma pessoa no quadro de confusão mental que se encontrava ser deixada noutro serviço? Onde está o sentido de responsabilidade destes profissionais de saúde? Encontraram-no, felizmente. Foi trazido de novo para o serviço de urgência por uma auxiliar.
Apenas pelas 22.30h consegui falar com nova Médica que estava agora a acompanhar o caso, desta vez Irene Verdasca. Fui assim informada que mais uma vez a TAC não havia revelado qualquer lesão cerebral mas que foi sim detetada uma infeção no vestíbulo, sendo possivelmente afinal, esse o fator das alucinações persistentes. Visto não existir serviço de Otorrino neste Hospital, teria de existir nova deslocação ao Egas Moniz para melhor avaliação. Insisti para que o pudesse acompanhar a essa consulta. Ficou então combinado estar pelas 8h da manhã do dia seguinte no hospital para seguir com o meu pai e com os bombeiros.
Terça- Feira 13/11/2018
Chego, conforme combinado, pelas 8h da manhã ao Hospital. Estava gerada a confusão. Referiram que não existia qualquer pedido de transporte para o Egas Moniz. Após ter eu própria ter ligado para os Bombeiros e ter falado com mais uns quantos profissionais de saúde, os bombeiros chegam finalmente pelas 11.30h.
Acompanhei o meu pai no transporte até ao Egas Moniz para a consulta de Otorrino, no serviço de Urgência daquele Hospital. Mudanças de Maca, mobilizações, dores constantes. De referir que as alucinações continuavam também. Durante a consulta com Otorrino, após observação dos ouvidos, fui informada de que a infeção no vestíbulo não era preocupante nem tão pouco seria a causa das alucinações. Efetuaram apenas uma limpeza aos ouvidos (por referirem ter apenas peles secas e cera acumulada) onde assisti aos gemidos do meu pai novamente. Voltamos para o Hospital São Francisco. Nova deslocação, mobilizações, mudanças de maca e Dores.
Pelas 16.30h, já no HSFX decidem realizar uma transfusão de sangue para estabilização de iões. Consigo, no período da tarde falar com novo Médico assistente nas urgências, que estava agora a acompanhar o caso (Dr. Pedro…), após análise de todo o quadro e verificando o meu estado de exaustão e do meu Pai, O Dr. pede desculpa por toda a situação e refere que de facto não percebe como até ao momento não havida sido sugerido internamento. Fala pelo telefone com a médica que acompanhava o meu pai em oncologia neste mesmo hospital (Dra. Andreia Coelho) e tenta perceber melhor o quadro/historial. A Dra. Andreia refere que o doente estava de facto a ser acompanhado e que os tratamentos sempre tiveram em vista a cura e não uma vertente paliativa.
Pelas 17.30h decide-se finalmente o internamento.
Exmos. Senhores, estamos a falar de mais de 82hr no serviço de Urgência neste Hospital, sem conclusões. Apresentando alucinações, deslocações constantes a outra unidade de saúde e dores persistentes.
Quarta-Feira 14/11/2018
No internamento no serviço de Medicina, já com outro conforto em termos de instalações e ambiente geral, é efetuada nova transfusão de sangue na tentativa de reposição de iões.
As dores persistem e a equipa (que referiu não saber que já havia sido realizado RX nem o historial ocorrido na urgência) decide pedir novo RX para averiguação.
Quinta-Feira 15/11/2018
Fui informada que de AFINAL existia uma fractura no Colo do Fémur! As dores eram mais do que um ser Humano consegue suportar. A lesão terá sido agravada pelos transportes constantes. É efetuada a mobilização da perna para a posição correta. Os gritos e gemidos eram sentidos. Passou a ser administrada Morfina para controlo da Dor e Fenantil 60 Mg. No estado débil em que se encontrava não poderia ser sujeito a uma operação. A ideia seria apenas controlar o “mal”.
Sexta-Feira 16/11/2018
Sempre muito sonolento e com pouca reação. Alucinações e quadro de delírio. Manutenção da medicação.
Sábado 17/11/2018
Recebemos chamada do Hospital pelas 10:30h. Precisavam de falar com a família. Desde logo percebemos que o pior tinha acontecido. E foi real, o meu PAI não resistiu, o meu PAI morreu.
Meus Senhores,
As minhas questões são:
- Quem se responsabiliza pela avaliação do RX efetuado dia 10/11/2018?
- Onde foi assegurado o conforto de um doente oncológico que passou 4 dias num serviço de urgência?
- Qual foi, afinal, a causa da morte do meu pai?
- Quem se responsabiliza pelo sofrimento de uma filha, esposa e mãe de 80 anos, a observarem IMPOTENTES, toda esta situação?
Bem sei que era um doente oncológico, bem sei que o quadro não estava favorável. Ainda assim, senti que pouco foi feito. O conforto não foi assegurado. Existiu neglicência no serviço de urgência.
O meu pai tinha 58 anos. Havia terminado os tratamentos de radio e quimioterapia há cerca de 1 mês. A situação estava controlada. Resultados de exames efetuados recentemente revelavam que o tumor teria diminuído. Nunca tinha revelado qualquer episódio de alucinação (no serviço de medicina foi me transmitido que a falta de sódio no organismo consequência dos tratamentos, poderia também ser umas das causas da confusão mental).
Sei que ninguém se vai responsabilizar, sei que esta carta não vai trazer o meu pai de volta.
Mas também sei que é meu dever reclamar. Despertar consciências. Mostrar a realidade dos factos face à falta de organização e incompetência que verifiquei em todo este processo.
O meu pai merecia melhores cuidados. Os portugueses merecem melhores cuidados.
A excelência do serviço nacional de saúde é um mito e não uma realidade.
Pedia que tivesse existido o mínimo… E era tão simples… CONFORTO. E o mínimo não existiu.
Na esperança que este meu testemunho possa fazer a diferença, alertar consciências e evitar situações futuras, despeço-me sem outro assunto e fico a aguardar brevemente uma resposta da vossa parte às questões que coloquei.
Informo ainda que pela gravidade dos factos, estamos a ponderar levar estas declarações até outros meios.


Magda Santos

 
Data de ocorrência: 5 de janeiro 2019
Esta reclamação foi considerada sem resolução
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