Ponderei bastante antes de vos enviar o que abaixo relato. No entanto, nem sempre o silêncio é a melhor opção e, neste caso, parece-me que calar é mesmo compactuar com algo de errado.
No passado dia 7 de março do corrente ano, encontrava-me a cumprir o serviço atribuído em horário no Gabinete do Aluno, vulgo GAA, no espaço correspondente, na Biblioteca da Escola na qual exerço funções como docente.
Cerca das 15:35h, chegou ao supracitado Gabinete um aluno a quem tinha sido dada ordem de saída de sala de aula. Nestes casos os alunos dirigem-se ao espaço do Gabinete do Aluno para cumprir tarefas. Questionei o aluno se trazia alguma tarefa para concretizar e, o aluno, nada respondeu permanecendo muito ocupado a teclar e a olhar para o seu telemóvel. Foi o funcionário que o trouxe que teve a amabilidade de me comunicar que o aluno não trazia qualquer tarefa e ainda de dizer ao aluno para que deixasse o telemóvel. Eu, procedi da mesma forma, solicitando ao aluno para que me entregasse o telemóvel. O aluno, de imediato, colocou o telemóvel no bolso e nada respondeu. Levantei-me e, novamente, me dirigi ao aluno solicitando o telemóvel. O aluno, sem nada responder, saiu da cadeira num acesso de fúria e foi dar a volta à Biblioteca pelo lado mais longo, contornando a área onde os alunos normalmente jogam xadrez, passando pela área de computadores e dirigindo-se para a saída.
Dirigi-me então à saída da Biblioteca, pelo lado mais curto, para impedir a saída do aluno do local. No entanto, não consegui, dado que o aluno procedeu de forma violenta, empurrando-me contra a secretária antiga que está na entrada da Biblioteca e saindo de seguida.
Deste incidente existem várias testemunhas que se encontravam na Biblioteca àquela hora.
No seguimento desta situação, saí da Biblioteca, dirigi-me ao PBX e solicitei que chamassem os agentes da Escola Segura.
Estes agentes apareceram na Escola seguramente mais de uma hora após o sucedido.
Estava já a lecionar quando fui chamada ao gabinete da Direção para prestar declarações, o que fiz, tendo sido interrogada de forma nada simpática pelo Agente Costa, da 18ª esquadra, Viso, do Porto. Este agente mais parecia estar a interrogar o agressor do que a agredida com frases como “..são situações que se podem resolver a bem...”, “...não se pode retirar o telemóvel aos alunos...”, ao que respondi “...a agressão nada teve a ver com a tentativa de retirada de telemóvel, mas antes com a tentativa de impedimento de saída do aluno do espaço no qual deveria estar.” ou ainda“...Também tenho uma professora lá em casa...”. Esta última frase proferida pelo Sr. Agente Costa, fez-me pensar se o agente em causa teria “...lá em casa...” uma professora que, quando agredida, preferiria que ficasse calada ....
Dadas as explicações que me ia facultando, sempre de forma antipática, eu esclareci que sabia como se processavam as coisas dado que a minha irmã trabalha na GNR. Aqui, o Sr. Agente Costa, ficou visivelmente nervoso, dirigindo-se a mim, e dizendo, com arrogância, “...pronto, já se viu que a senhora sabe tudo...” ao que, calmamente, respondi “...no dia em que souber tudo, estarei morta.” E assim é. Acredito que aprendemos até morrer.
Após tomar nota da ocorrência e dos meus dados, informou-me que, no dia seguinte deveria apresentar-me no Instituto de Medicina Legal (IML) do Porto, pelas 10:00h, para proceder a exames médicos. Assim fiz e, ao apresentar-me no IML, questionaram-me sobre o documento que o Sr. Agente Costa deveria ter-me entregue no dia anterior. Respondi que o Sr. Agente Costa não me entregou qualquer documento e compreendi a dificuldade em encontrar a queixa da Escola Segura dada a quantidade de queixas que constavam nos computadores do IML (os funcionários tiveram a amabilidade de me mostrar, e realmente eram centenas....). Assim, os funcionários do IML aconselharam-me a ir a uma esquadra próxima para, ou apresentar queixa, ou saber o número do processo, sem o qual não conseguiam encontrar o meu caso.
Desta feita, dirigi-me à 12ª esquadra, Cedofeita, e aí esperei a minha vez. Havia muita gente no local em fila de espera, e os processos são morosos, de forma que apenas quando o agente de serviço (no dia 8, de manhã) veio saber dos vários casos, se prontificou imediatamente para ligar para a 18ª esquadra (ligou duas vezes) e conseguiu o tal número do processo. Este agente, do qual não sei o nome, teve uma atitude em tudo díspare do Sr. Agente Costa: foi cordial, extremamente prestativo e educadíssimo.
Eram portanto 13:30 quando novamente consegui chegar ao IML e 14:15h quando consegui ser examinada pela médica.
Data de ocorrência: 7 de março 2023
Para deixar o seu comentário tem de iniciar sessão.