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No estudo “A Literacia Digital dos Consumidores em 2023” - realizado pelo Portal da Queixa by Consumers Trust -, 51% dos consumidores afirma ter sido alvo de uma tentativa burla na internet. 62% considera que a literacia digital em Portugal é “baixa ou muito baixa” e 59% é da opinião que o Governo não tem agido para melhorar esta situação. Pedro Lourenço, fundador do Portal da Queixa defende que é imperioso “a partilha de conhecimento, assente numa estratégia alargada, protagonizada por todos os interessados na jornada digital dos consumidores portugueses.”
As burlas online continuam a aumentar em Portugal e o valor médio burlado também subiu, este ano, para 515,79€ euros, apurou o estudo “A Literacia Digital dos Consumidores em 2023” realizado para avaliar a Literacia Digital em Portugal. Em 2022, o valor médio da burla foi de 410,71€ e, em 2021, foi de 441,55€. Considerando o valor médio e o número de reclamações registadas em 2023, aferiu-se que o montante global de perdas já ascende os dois milhões de euros este ano (2.207 805 €).
De acordo com o inquérito, mais de metade dos inquiridos já foi alvo de uma tentativa de burla através da internet (51%), sendo que, é através de e-mail (23%) e de lojas online falsas (31,1%) que as principais burlas acontecem. O pagamento de encomendas nunca entregues, representam 28,5% das principais formas de burla.
O valor monetário perdido em 81,9% dos casos foi até um máximo de 500 euros, contudo, há inquiridos a assumir perdas superiores: 7,9% entre 500€ a 1.000€; 2,3% de 5.000€ a 50.000€ e 0,9% de 50.000€ a 100.000€.
O estudo indica que 44,6% das pessoas não conseguiram recuperar o valor perdido, e apenas 37,7% conseguiu recuperar a totalidade do valor.
Sobre os principais motivos das burlas online denunciadas este ano, no Portal da Queixa, 62,25% das reclamações referem “compras online nunca recebidas”, com uma média de valor burlado de 532 euros. Já 22,36% das queixas, apontam “transação não autorizada/desconhecida”, com um valor médio de burla de 484 euros. A “subscrição de serviços” foi o motivo reportado por 7,10% dos consumidores, num valor médio de burla de 395 euros. A gerar 5,74% das reclamações, mas a registar a média de valor burlado mais alta (631 euros), está o esquema de fraude online através da “página da marca falsa/clonada.”
Esquemas de burla mais frequentes
Entre o universo de inquiridos, 31,1% foi burlado com uma compra através de uma loja online; 23,2% foi através de um e-mail fraudulento; 14,9% foi vítima através compra/venda numa plataforma entre particulares; 13,6% através das redes sociais e 9,4% foi enganado via mensagem enviada para o telemóvel.
No que se refere à Literacia Digital, 93% diz estar familiarizado com as burlas via SMS e e-mails fraudulentos; 86,9% com o phishing; 48,7% com o roubo de contas de whatsapp. O esquema por ransomware é conhecido entre 38,6% dos inquiridos, mas apenas 16,3% sabe o que é o phishing e só 8,6% conhece o pharming.
À questão "Qual foi o meio utilizado para executar a burla/fraude?", 28,5% afirma ter pago uma encomenda que nunca chegou ou veio errada; 15,3% diz que a burla foi através de cartão de crédito; 14% foi alvo de phishing e 11.3% por MB WAY.
Como forma de proteção, não partilhar a password é uma opção indicada por 82,9% das pessoas; 62,6% admite confiar no seu programa de antivírus; 50% refere utilizar a autenticação de dois passos; 49,3% afirma usar sempre redes de internet seguras e 38% assume alterar as passwords com regularidade.
62% responsabiliza aumento das burlas com fraca literacia digital. Governo não age.
Grande parte dos inquiridos considera que o consumidor português tem uma fraca literacia digital, com 44,5% a afirmar ser “Baixa” e 17,6% “Muito Baixa”.
Na opinião da maioria dos participantes do estudo (59%), o Governo não tem tomado nenhuma medida para melhorar a literacia dos portugueses.
Pedro Lourenço, fundador do Portal da Queixa e CEO da Consumers Trust, realça que:
“Os números são assustadores e há previsão que continuem a aumentar a par com a evolução da tecnologia. A falta de literacia digital na sociedade portuguesa, já é equivalente ao problema do analfabetismo de há 40 anos e não atinge apenas os mais velhos. De acordo com a OCDE, em Portugal, um em cada três alunos de 13 anos de idade não possui competências digitais básicas. Infelizmente, esta realidade só poderá ser invertida com a partilha de conhecimento, assente numa estratégia alargada, não dependendo apenas das entidades governamentais - que deverão ser as principais potenciadoras - mas de todos os interessados na jornada digital dos consumidores portugueses.”
Na opinião do responsável, “as marcas não podem querer clientes digitais, sem antes perceber que estes, ainda não são detentores desse conhecimento. É quase como levá-los a entrar numa armadilha, pois serão apanhados por outros menos bem intencionados. Estarão, por isso, a contribuir igualmente para o crescimento dessa fragilidade, colocando em causa a confiança dos mercados digitais. São, cada vez mais, os consumidores que arriscam a entrar no mundo online, aliciados por estratégias de marketing que premeiam o uso dos canais digitais, sem possuírem o mínimo de conhecimento para o risco que enfrentam, colocando a sua segurança em causa.”
O que fazer?
Pedro Lourenço advoga: “É nossa obrigação contribuir para o aumento da literacia digital, criando mecanismos de defesa, ações e conteúdos pedagógicos, ensinando de forma direta e objetiva como utilizar os canais online, já que deviam ser os organismos do estado a assumir a dianteira. Contudo, o que assistimos, é a uma total desconsideração, por parte do governo, relativamente à pasta da proteção dos consumidores, tendo em conta as ações de despromoção da tutela, primeiro com a nomeação do secretário de estado João Torres, que não possuía experiência para o cargo e por consequência a extinção da secretaria de estado, passando esta a ser integrada da do Turismo, na legislatura seguinte.”
Perfil do consumidor vítima de burla
Apesar de o público feminino registar mais reclamações relacionadas com burlas na internet (2.166), é o género masculino (com 2.121 queixas) que apresenta o maior valor médio de burla (675 euros), valor inferior nas mulheres (362 euros). As respostas dos inquiridos permitiram ainda constatar que, à medida que se verifica o aumento da idade, o valor médio da burla aumenta. Em ambos os géneros, verifica-se que as burlas com maior valor estão entre pessoas com mais de 55 anos.
Recorde-se que, em 2022, o Portal da Queixa registou perto de 10.500 reclamações relacionadas com burlas online.
O estudo “A Literacia Digital dos Consumidores em 2023” realizou-se através de um questionário online efetuado entre os dias 18 e 25 de abril e abrangeu um universo de 2.074 inquiridos. Entre os indivíduos que participaram no estudo, 55,6% das respostas foram dadas pelo género masculino, 43,2% pelo género feminino. As faixas etárias com maior adesão foram pessoas com mais de 65 anos (33%) e entre os 35-44 anos (26%), seguindo-se a faixa etária entre os 45-55 anos (24%).
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