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Março chega e, com ele, multiplicam-se reflexões, debates, podcasts e publicações sobre o Dia Internacional da Mulher. As perspetivas são diversas e moldadas pelas experiências individuais de cada um. No entanto, há questões incontornáveis que continuam a ser levantadas: as quotas são uma solução ou uma necessidade temporária? A parentalidade ainda penaliza as mulheres no mercado de trabalho? A desigualdade salarial é um problema ultrapassado? Ser mulher continua a ser um obstáculo à progressão na carreira?
A minha visão, construída ao longo dos anos através da experiência profissional e pessoal, diz-me que estas questões ainda merecem ser debatidas. Embora tenhamos evoluído significativamente, o caminho para uma sociedade verdadeiramente equitativa ainda está longe de estar concluído.
O Dia Internacional da Mulher assinala uma luta que atravessa gerações. Criado para reivindicar direitos básicos, aquilo que deveria ser hoje apenas uma celebração continua a ser um lembrete das desigualdades que persistem. Quando assumi um cargo de liderança, a presença feminina em posições de topo era reduzida. A inspiração veio de perto, dos exemplos reais que me rodeavam. A minha mãe, que criou quatro filhos sozinha, assumindo os papéis de mãe, pai e trabalhadora sem nunca baixar os braços, ensinou-me que a resiliência e a determinação superam qualquer barreira. Numa altura em que ser mulher divorciada era alvo de preconceito, ela provou que as limitações impostas pela sociedade não definem o que podemos alcançar.
A parentalidade, de facto, continua a ser um dos maiores desafios na carreira das mulheres. O impacto da maternidade ainda se traduz numa progressão mais lenta, menos oportunidades e na perceção errada de que a disponibilidade diminui. No entanto, quem já conciliou maternidade e carreira sabe que a parentalidade não limita a capacidade de liderança – pelo contrário, fortalece-a. Desenvolve competências valiosas, como a gestão de tempo, a resiliência e a capacidade de lidar com múltiplos desafios em simultâneo. No meu caso, a maternidade tornou-me uma líder mais completa, disciplinada e eficaz na gestão de equipas. Mas esta transformação não acontece sozinha – exige uma mudança estrutural, tanto nas famílias, onde os homens assumem cada vez mais o seu papel ativo, como nas empresas, que precisam de abandonar a ideia ultrapassada de que um bom profissional se mede pelas horas que passa no escritório.
A presença feminina em cargos de decisão continua a ser uma questão estrutural. E é aqui que entram as quotas – um tema polarizador. Idealmente, gostaríamos de viver num mundo onde a competência fosse o único critério de seleção. No entanto, a realidade mostra-nos que, sem medidas concretas, a igualdade de oportunidades não acontece naturalmente. As quotas garantem que as mulheres tenham acesso a posições de liderança e ajudam a corrigir um desequilíbrio histórico. São um mecanismo transitório, não um objetivo final. O verdadeiro sucesso será quando deixarem de ser necessárias, porque o mercado já reconhece e valoriza o talento feminino sem precisar de medidas reguladoras.
A desigualdade salarial é outro obstáculo que não pode ser ignorado. Ainda hoje, mulheres e homens a desempenhar as mesmas funções continuam a ter remunerações diferentes. Durante demasiado tempo, esta disparidade foi normalizada, justificada por fatores que, na prática, escondem um problema enraizado na cultura corporativa. A transparência salarial surge como um fator essencial para corrigir estas distorções. Quando os critérios de progressão e remuneração são claros, as injustiças reduzem-se e a confiança dentro das organizações fortalece-se.
A mudança não acontece apenas através de políticas e leis. Precisa de exemplos reais. Na Consumers Trust, trabalhamos diretamente com reputação digital e sabemos o impacto que a transparência tem na confiança. O mesmo princípio aplica-se às relações laborais: quando há transparência, há mais motivação, melhores resultados e um ambiente mais equitativo. Precisamos de empresas que implementem novas formas de gestão e de pessoas que desafiem o status quo. Desde cedo percebi que o género não deveria definir ambições ou capacidades. A resiliência e o mérito são as verdadeiras bases do sucesso, e é esse pensamento que deve guiar a próxima geração.
O Dia da Mulher não deveria ser necessário, mas a verdade é que ainda é. O impacto de quem hoje se recusa a aceitar desigualdades definirá o que deixamos para o futuro. Estamos a avançar, mas não podemos permitir que o silêncio nos faça recuar. O verdadeiro sucesso acontecerá quando não precisarmos de estudos para comprovar diferenças que ainda hoje assistimos. Esse será o momento em que a competência e o compromisso serão os únicos fatores que realmente contarão. Até lá, é essencial que mulheres e homens continuem a trabalhar em conjunto, desafiando barreiras e garantindo que o passado não se repete. O caminho faz-se lado a lado.
Opinião publicada: Lux Woman
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