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"Vamos sentir dificuldades e temos de tomar decisões de imediato", afirmou à agência Lusa José Cruz, fundador e diretor da Atlântico, um dos maiores importadores de produtos portugueses para o mercado britânico.
A forte desvalorização da libra na sequência do resultado do referendo é uma das principais consequências, apontou, pelo que sente necessidade de tomar "precauções".
"Trabalhamos não só com Portugal como com outras moedas como o dólar. Vamos ter de aumentar preços, não vamos esperar por notícias melhores", confiou, receando que as negociações com a União Europeia sobre novos acordos de comércio sejam longas.
A decisão de aumentar preços vai afetar as lojas e restaurantes que compram os seus produtos e os respetivos clientes.
"Vai ser difícil para todos, incluindo para o consumidor final. Acredito que vão comprar menos, as pessoas que tinham planos de ficar no Reino Unido já começam a pensar mudar para outro país europeu e isto afeta a intenção de expandir neste mercado", lamentou.
Guilherme Rosa, eleito local em Stockwell, no sul de Londres, onde se concentra um grande número de emigrantes e comércios portugueses, referiu que é esperada uma quebra do poder de compra devido à desaceleração económica prevista por muitos analistas.
"Vai ser uma desgraça económica aqui. As pessoas não vão ter tanto dinheiro para atividades recreativas, como ir a um restaurante. Vai ter impacto e muitos dos comércios [portugueses] que existem vão deixar de existir", previu, em declarações à Lusa.
Outro reflexo de uma degradação da economia será no turismo, garantes, seja dos britânicos seja dos próprios emigrantes portugueses.
"Já estavam a falar ali no café que as férias vão ficar mais caras e que não poderão ir tantas vezes a Portugal", contou.
O presidente da Câmara de Comércio Portuguesa no Reino Unido, Bernardo Ivo Cruz, lembrou que "neste momento, nada muda" e que a ativação do processo formal de saída do país da UE só deverá acontecer depois de outubro, após a substituição do primeiro-ministro.
Seguem-se depois dois anos de negociações para clarificar qual será a relação entre o Reino Unido e a UE, às quais o dirigente aconselha as empresas portuguesas a operar no mercado britânico e as companhias britânicas com negócios em Portugal a acompanhar "com muita atenção porque serão fundamentais".
A Câmara de Comércio Portuguesa no Reino Unido possui cerca de 300 empresas associadas, portuguesas e britânicas com negócios em ambos os países, desde imobiliárias a instituições financeiras.
Uma alteração no funcionamento da City, o centro financeiro londrino, "terá um impacto direto porque as condições de fazer negócios ficarão mais onerosas". "Isso afeta a capacidade de os nossos os bancos fazerem negócios aqui e as nossas empresas financiarem-se", exemplificou.
Por outro lado, admitiu existir "espaço para Portugal e o Reino Unido terem conversas bilaterais", embora tal só possa acontecer após uma maior estabilidade política trazida pelo Governo que for formado pelo sucessor de David Cameron, que anunciou a intenção de se demitir em outubro.
"Estamos a falar aqui de um longo período de instabilidade. Durante quanto tempo não vamos saber quais serão as condições de fazer negócio entre os dois países? Esse é o maior problema", ditou.
Este "processo longo de indefinições", mesmo que entretanto nada mude, será ensombrado por "esta nuvem sobre o que será o futuro" e, prognosticou, vai paralisar investimentos de médio e longo prazo.
Quanto à desvalorização da libra, admitiu que "pode ser positiva para os exportadores britânicos, mas para o importador inglês que compra vinho e outros produtos portugueses, as coisas ficaram muito mais caras".
Fonte: JN
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