Ponto de situação em 29 de Março de 2024
Como referi no último ponto de situação, depois de me dirigir diretamente ao Presidente da Assembleia Municipal, em resposta imediata, acabei por receber quase em simultâneo dois emails.
Relativamente ao email do Presidente da Assembleia Municipal fiz os comentários no meu último ponto de situação.
Quanto ao e-mail recebido da Área de Trânsito e Segurança Rodoviária da Divisão de Transportes e Trânsito, remeti, em resposta, um contraditório que transcrevo abaixo e sobre o qual não recebi qualquer contacto posterior.
De facto a essa resposta (a oficial à minha reclamação) não oferece qualquer proposta de solução ou mitigação para o problema apresentado e as minhas solicitações. Limita-se a dar uma resposta atabalhoada ao que não foi pedido, focando-se em desviar a atenção para o que não foi efetivamente feito e tentado menorizar o significado e o impacto do que foi feito em prejuízo dos moradores (reconhecendo que o estavam a fazer), como se poderá ver no contraditório que agora partilho.
Interessante, o texto do abaixo assinado, em momento algum menciona a necessidade de se fechar um dos sentidos de trânsito em qualquer das ruas. As preocupações e as propostas de solução apontadas são genuinamente orientadas para a segurança dos peões que normalmente se deslocam na área. A ideia de fechar um dos sentidos terá surgido com uma finalidade que, volto a referir, não consegue ser justificada, na forma atabalhoada como foi.
De referir que, desde o envio do contraditório, a única coisa de jeito que foi feita em prol da segurança no local, foi a instalação de espelhos convexos nos locais onde foram colocados os sinais de sentido obrigatório (sempre fizeram falta ali) e a instalação de sinais de zona escolar e novos limites de velocidade (40 km/h) na rua dos Sete Irmãos. Escusado será dizer que nada muda…(poucos são os que cumprem).
Resta-me acrescentar, antes de apresentar o texto do contraditório que enviei, que não irei desistir exercer o meu direito de cidadania e de lutar para ver uma solução que compatibilize os direitos dos moradores e a segurança de circulação no local. Moro aqui e não penso mudar-me. É INACEITÁVEL termos de fazer entre 1km e 1km e meio a mais para sair ou regressar a casa, dependendo de onde vimos ou para onde vamos. Será que, no limite, vou ser eu a ter de adquirir umas tabuletas a dizer “EXCETO MORADORES” ?
Vamos então ao contraditório enviado em 22fev (no próprio dia em que recebi a resposta) e que não teve resposta (sem surpresa)
Contraditório da resposta à Reclamação — Alterações de trânsito zona circundante ao Externato de Penafirme
v/refª 753 22-FEV-24
Após leitura atenta da resposta recebida, várias questões se levantam no imediato:
1. Lamento constatar que, aparentemente, a minha reclamação não terá sido suficientemente clara no propósito nem no próprio objeto, uma vez que a resposta parece estar a ser dada a uma reclamação totalmente diferente (embora com o mesmo título e sobre a mesma alteração viária) focada, quase na totalidade, no que não foi feito (olvidando o que deveria ser feito) ao invés de se focar no que foi feito e que realmente constitui o alvo da reclamação e impacta diretamente os moradores e as suas famílias;
2. Não responde a nenhuma das questões e solicitações feitas por mim, quer na reclamação, quer no email remetido ao Presidente da Assembleia Municipal, nomeadamente:
a. A discussão e implementação, em conjunto com os moradores, de soluções compatíveis, quer com as motivações da decisão, como com os legítimos direitos dos cidadãos afetados por ela;
b. A indicação do local onde posso consultar a ata (ou atas) da Assembleia Municipal, onde estas alterações foram discutidas e aprovadas. Sobre este ponto, mantenho a minha solicitação.
3. Analisando em detalhe a resposta, faço os seguintes comentários ao conteúdo e levanto as questões correspondentes:
Acuso a recepção da resposta tardia (naturalmente forçada) e o pedido de desculpas associado à falta de contacto e atraso.
“No seguimento de uma solicitação da Associação de Pais,…”
Não foi essa a informação que pude confirmar. Tratou-se de uma proposta de alguns alunos que foi prontamente acolhida pela Associação de Pais e apoiada pela Direção do Externato.
“…as alterações foram analisadas entre o Município em conjunto com a Junta do Freguesia, tentando sempre chegar a uma solução que tivesse o menor impacto possível aos demais, reconhecendo que qualquer alteração do sentido da circulação iria afetar os moradores.”
Se esse reconhecimento existia desde o início (obviamente), por que razão não foram os moradores informados e convidados a participar no processo, uma vez que eram (e reconhecidamente, continuam a ser) os únicos prejudicados pela decisão? Não é assim que a relação de confiança e respeito entre os eleitores e aqueles que foram eleitos para os representar, se fortalece?
“Em relação ao mapa existente no primeiro comunicado da Câmara, o mesmo tinha um lapso, a Rua dos Sete Irmãos não sofreu alterações de circulação, mantendo ambos os sentidos do trânsito entre a entrada “nova” do Externato do Penafirme e o cruzamento com a Rua Frei António do Sousa e Távora, pelo que, foi corrigido assim que foi detectado.”
De facto, foi corrigido, mas apenas como reação à minha reclamação no Portal da Queixa. E devo aqui dizer que apenas se tratou de um erro porque a ideia prevista inicialmente (que incluía o encerramento parcial do sentido Nascente Poente) não chegou a ser implementada (tive acesso a uma informação, transmitida internamente no externato, que o confirma…).
“Nas restantes ruas mencionadas na reclamação, não foi colocada qualquer restrição nos sentidos do trânsito, continuando a ser possível a circulação em ambos os sentidos, sendo que, o ajuste feito, foi a obrigação de viragem à direita quando vem de uma das ruas em direção à estrada intervencionada, do modo a cumprir o sentido do circulação imposto.”
Obviamente, a reclamação incide precisamente e exclusivamente sobre a “estrada intervencionada” e não nas outras onde tudo se manteve. Qual seria o propósito de reclamar sobre coisas que não aconteceram e que não alteraram a circulação?
Pelo que é referido, nenhuma alteração nos sentidos foi efetuada e a única coisa que foi feita foi colocar dois sinais de obrigação de virar à direita. E então o condicionamento do acesso dos moradores ao bairro, que os obriga a desvios que chegam a ser de 1400m (quase um quilômetro e meio, dependendo de onde vêm ou para onde pretendem ir)? Não se trata de um pequeno desvio (uma volta a um quarteirão ou rotunda) mas sim de uma obrigação que é continuará a ser, inaceitável.
É neste ponto que a resposta (que não é resposta, porque não era esta a pergunta) se foca, erradamente, no que não foi feito…
“Conforme analisado no local, optou-se por colocar apenas a Rua Frei António do Sousa e Távora de sentido Único, por forma a criar um espaço para mobilidade suave.”
Voltamos aqui ao cerne da questão e da reclamação. Como os moradores nunca foram informados e chamados a participar na discussão, a decisão tomada apenas os vem prejudicar em exclusivo, sem qualquer benefício evidente para que se desloca a pé (de trotinete, ou de bicicleta, entendendo que fazem parte do conceito de mobilidade suave) naquela via.
Vejamos então:
- A largura da via (idêntica à rua dos sete irmãos) não é impeditiva à manutenção dos dois sentidos de trânsito mesmo num modelo de via partilhada com velocípedes e pedestres, como existe em muitos locais em Portugal e pela Europa fora. Aliás, se a rua continua suficientemente larga para permitir o estacionamento de viaturas e autocarros, como acontece frequentemente, também estará apta a manter os dois sentidos;
- O troço em causa, tem cerca de 400 metros, dos quais, apenas cerca de 90 não têm passeio já construído (estes 90m até ficam no troço mais largo da rua e seriam os únicos passíveis da criação da estreita faixa de circulação pedonal exclusiva, como a que foi feita) o que torna desnecessário o fecho de um dos sentidos. Todo o restante percurso, vê agora duplicado, sem necessidade, esta faixa pedonal exclusiva;
- No limite, e como solução de compromisso, a colocação de uma placa de “excepto moradores” poderia, mantendo tudo como está, mitigar o impacto para os residentes e suas famílias.
Para além disso:
- As passadeiras criadas não estão devidamente localizadas (mesmo em termos de iluminação e sem bandas sonoras);
- Não existem, como não existiam no passado, espelhos convexos que permitam a visibilidade a quem pretende entrar, em segurança, na rua, quer no topo norte, quer nos acessos da Rua das Hortinhas e Travessa das Hortinhas;
- Apesar de, aparentemente, ser o único a apresentar formalmente o meu desagrado com a decisão, todos os que com quem falei sentem-se prejudicados, apesar de, por opção pessoal que desconheço…(algumas não) passaram a recorrer de alternativas que nunca passavam disso mesmo. Falo do recurso à entrada e saída do bairro através do pequeno troço da rua das hortinhas, que era até há bem pouco tempo, apenas um caminho de terra batida, para serventia aos terrenos agrícolas que o ladeiam (como não estou sempre em casa durante a semana, demorei algum tempo a confirmar esta nova mudança de comportamentos e percurso dos meus vizinhos, mas não só).
Ora, ironicamente, este percurso, que é o único onde mal passa uma viatura ligeira, e é o privilegiado por quem se desloca a pé, para o centro da Póvoa de Penafirme, é aquele que é utilizado agora com muita frequência, nos dois sentidos, por quem quer evitar um desvio (refiro novamente, inaceitável) com os perigos e inconvenientes associados.
Por último,
“Agradecemos a sua exposição a compreensão no sentido do salvaguardar a segurança do quem circula na zona adjacente ao Externato do Penafirme.”
A minha compreensão só existe para a necessidade de salvaguardar a segurança de quem circula a pé, naquela zona (onde eu também vivo e circulo), mas não se estende, nem à solução adotada, nem ao modo como todo o processo decorreu, à revelia dos moradores, únicos prejudicados.
Basta ler com melhor (alguma?) atenção o que escrevo na reclamação, para verificar que há muito mais (e talvez mais urgente) a fazer, do que criar uma chamada, “mobilidade suave”, de utilidade prática duvidosa, na minha opinião, pelo uso que vejo dela, face ao impacto negativo que obriga.
Outra constatação que faço, desde que foram feitas as alterações ao trânsito, é que a velocidade das viaturas (não todas), nas chamadas “horas de ponta” (início e fim das aulas) parece significativamente mais alta, talvez pela nova confiança que não vão encontrar trânsito em sentido contrário (para reflexão sobre a salvaguarda da segurança).
Considero ainda que, uma vez que se tratou de uma iniciativa de jovens alunos do externato, se perdeu uma excelente oportunidade pedagógica de mostrar como um processo de decisão deste tipo se deve fazer em democracia, que os obrigaria a discussão e debate de ideias com as pessoas e as instituições diretamente envolvidas e afetadas pela iniciativa.
Temo ter ficado apenas a lição de que basta ter os apoios certos, para que uma qualquer ideia (independentemente da sua legitimidade), se concretize mesmo que seja ao atropelo desnecessário, dos direitos de alguns cidadãos.
Como refiro na minha reclamação, estou disponível para discussão de qualquer solução mitigadora do impacto, claramente inaceitável, desta alteração, para os moradores, continuando, portanto, a aguardar o respetivo contacto e em simultâneo, a resposta à solicitação feita sobre a consulta da Ata da reunião da Assembleia Municipal, onde esta alteração de trânsito terá sido aprovada.
(aqui ainda não tinha recebido qualquer resposta sobre este tema que constava no e-mail enviado ao Presidente da Assembleia Municipal)
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