Hospital Sousa Martins
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Hospital Sousa Martins - Reclamação aos serviços de urgência

Sem resolução
Maria do Céu Martins Bairras Fernandes
Maria Fernandes apresentou a reclamação
9 de setembro 2020 (editada a 29 de dezembro 2020)
No início do ano passado o meu pai foi diagnosticado com um linfoma e, dada a idade (90 anos), a decisão dele e da família, com base na opinião dos médicos, foi que não iria fazer qualquer tratamento, pois o mesmo só serviria para tornar os seus últimos tempos de vida mais sofridos e com menos qualidade de vida.
Desde essa altura que as visitas ao Hospital Sousa Martins na Guarda se tornaram cada vez mais frequentes. Uma vez que este é um hospital que serve uma população, maioritariamente, de uma faixa etária mais envelhecida e a sua necessidade, também já antiga, de ser reformado e atualizado, as condições de atendimento nunca foram as melhores. Das vezes que o meu pai teve que ir às urgências, ficou diversas vezes na sala/corredores das urgências durante dias a fio - sem privacidade, sem condições para poder descansar, luzes sempre ligadas, pessoas sempre a falar, sem esquecer de referir que no seu estado de saúde já debilitado, estava constantemente em contacto com outras pessoas com patologias que poderiam piorar ainda mais a sua condição.
Tudo isto já antes de sermos afetados pela pandemia causada pelo vírus COVID-19 e, como seria fácil de imaginar, tudo piorou a partir de março. Para além do estado de saúde cada vez mais debilitado, o serviço prestado aos utentes daquele hospital também piorou drasticamente, o que motiva esta queixa que aqui apresento e passo a descrever.
Para além de, incompreensivelmente, o Hospital Sousa Martins se ter tornado um hospital de referência para os doentes de COVID-19 – pergunto-me como, um hospital com tão precárias condições e com tanta falta de meios se pôde tornar um hospital de referência – os meios humanos (desde médicos ao pessoal administrativo) deste hospital parecem ter sido “desumanizados”.
Passo a referir alguns dos acontecimentos que foram relatados pelo meu pai, presenciados por nós ou confirmados pelos poucos meios “humanos” desta instituição:
- Em junho levámos (eu e os meus 2 irmãos) o meu pai às urgências por estar com muita dificuldade em respirar. Entrou às 9h da manhã e ficámos à espera de novidades até às 19h. Durante este período insistimos várias vezes junto da receção para podermos falar com a médica que o estava a assistir (Dr.ª Agostinha) ou para poder, simplesmente, ter alguma notícia sobre o seu estado de saúde. Não conseguimos falar com a médica e foi-nos sendo dito que estavam à espera de resultados de análises que teriam sido feitas. Às 19h, depois de 10h à espera, perdemos a paciência e exigimos falar com a médica, que nos informou que o meu pai iria ser internado. Fomos para casa e passado cerca de 1h30 ligam-nos para o ir buscar, porque iria ter alta (tínhamos acabado de fazer 150 Km e não conseguíamos ir buscá-lo, pelo que nos foi dito que poderíamos ir buscar o meu pai no dia seguinte). Após este episódio, fui contactada pela médica dos paliativos que estava a acompanhar o meu pai, com a acusação que o teríamos abandonado no hospital, pois foi o que a Dr.ª Agostinha deixou registado no relatório. Para além da confirmação de que, afinal, não foram feitos quaisquer exames ao meu pai nesse dia (relembro que ficámos 10h à espera destes resultados, por indicação da médica).
- No mês de Julho meu pai teve que ser, novamente, encaminhado para as urgências, onde passou 5 dias deitado numa maca encostada num corredor, pediu água e foi ignorado, passou fome e passou demasiadas horas com uma fralda, que até esta altura nunca tinha precisado de usar, suja (de referir que ele sempre foi uma pessoa com muito cuidado com a imagem e muito asseado) que ninguém se preocupava em mudar, sem nenhuma dignidade. Sempre que podia ligava-nos (aos filhos) a implorar (chorar) para que o tirássemos dali “porque o estavam a matar”. Durante este tempo, nós filhos, ligámos todos os dias para o hospital e tínhamos, literalmente, que pedinchar para conseguirmos ter notícias dele ou para conseguirmos falar com o médico. Muitas vezes com um atendimento rude por parte das funcionárias da receção. Quando, finalmente, teve alta, foi enviado para casa numa ambulância (dado o seu estado debilitado) apenas com uma fralda vestida.
- Nas diversas vezes que contactámos o hospital e que pedíamos para falar com o médico que estava de serviço, estes deixavam recado que não falavam com a família e que as informações seriam passadas através do Gabinete de Relações Públicas, só que estas informações nunca eram precisas nem pormenorizadas. Numa altura em que os pacientes não podem ter nenhum acompanhamento familiar no hospital, como é suposto termos conhecimento do seu estado se quem sabe se recusa a falar connosco? Como é que se admite que os nossos idosos não possam ser acompanhados? À semelhança das crianças, eles muitas vezes não percebem o que lhes é dito, ou simplesmente já não ouvem e ninguém se preocupa muito em fazer mais um esforço para os fazer perceber o porquê de estar ali ou dizer-lhes o porquê de não lhes poderem dar alta. Eles sentem-se abandonados pela família, com quem deixam de ter contacto, e por todo o pessoal do hospital que muitas vezes se limita a ignorá-los.
- Durante estes 5 dias que o meu pai esteve nas urgências nunca surgiu uma vaga no internamento (temos conhecimento de pessoas que já ali estava ainda há mais tempo a aguardar). Como é que um hospital destes se pode dar ao luxo de ser um dos primeiros hospitais de referência para o COVID-19? Com os quartos para estes doentes sempre vazios (por não terem pacientes infetados a precisar deles) e as urgências cheias de pessoas abandonadas nos corredores?
- Ao fim de 5 dias o meu pai teve alta, embora a infeção que tinha ainda não estivesse resolvida, mas não conseguiam interná-lo e ficar nas urgências não lhe estava a trazer mais benefícios do que ser enviado para casa. O meu pai entrou naquele hospital uma pessoa autónoma e, passados estes 5 dias, passou a ser completamente dependente dos cuidados de terceiros.
- Depois de um mês a ser cuidado pela família, tivemos que o inscrever num lar porque os cuidados que ele precisava iam além das nossas capacidades, ficou um dia no lar e foi novamente encaminhado para as urgências com uma infeção grave, uma infeção que não ficou resolvida desde a última vez que esteve internado, tendo sido dada alta quando ele ainda precisava de cuidados hospitalares. Ficou 4 dias, mais uma vez, num corredor das urgências do hospital da Guarda e foi transferido para os cuidados paliativos de Seia, onde o pudemos visitar. Quando o fomos visitar estava praticamente inconsciente, mas o que nos chocou mais foi a quantidade de hematomas que tinha nos braços, porque segundo o hospital tiveram que o atar por ele estar muito agitado. De referir que o meu pai já pouco se mexia quando foi hospitalizado esta última vez.
O meu pai faleceu no dia 5 de setembro do presente ano, sabíamos que isto acabaria por acontecer, mas nunca pensámos que ele teria que sofrer tanto e ser tão maltratado nos seus últimos meses de vida. Enalteço o acompanhamento que ele teve no Lar do Soito e na Unidade de Cuidados Paliativos de Seia, onde lhe foram prestados os cuidados e atendimento que um idoso em fim de vida merece, sempre preocupados com diminuir o sofrimento dele e em dar-lhe o maior conforto possível. Pôde ser acompanhado pela família e ter um “fim” digno e humano.
Esta reclamação já de nada servirá o meu pai, mas espero, sinceramente, que traga alguma melhoria para os doentes que continuam a precisar do Hospital Sousa Martins, porque em Portugal não se morre apenas de COVID e por mais vezes que os profissionais de saúde se deparem com casos destes, esta pessoas não sofrem menos porque o seu estado deixou de impressionar os profissionais habituados a esta realidade, as famílias não deixam de se preocupar com os seus e todo este sofrimento teria sido evitado se houvesse mais humanidade e menos insensibilidade nestas instituições.
Data de ocorrência: 9 de setembro 2020
Esta reclamação foi considerada sem resolução
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