A influência do futebol profissional na economia portuguesa

O futebol profissional tem um papel cada vez mais determinante na economia portuguesa. Os campeonatos profissionais são um exemplo de sucesso de popularidade, do qual resulta uma multiplicação dos valores envolvidos em patrocínios e acordos comerciais.

Mas qual é o real peso da II Liga (Liga Portugal SABSEG) e, sobretudo, quanto vale a I Liga (Liga Portugal Betclic) em termos económicos? No fundo, qual é a verdadeira influência do futebol profissional na economia portuguesa?

Os números dão-nos todas as respostas necessárias, desde que saibamos como fazer as perguntas. A partir deste princípio, vamos analisar o contexto dos campeonatos profissionais, com natural destaque para a I Liga, para podermos entender como o futebol profissional impacta a economia nacional de uma forma cada vez mais determinante.

Campeonato: Liga Portugal Betclic
 

Em Portugal existem dois campeonatos profissionais de futebol, organizados no modelo de Liga. Como é natural, todos os clubes querem estar na I Liga. Afinal, o vencedor da Liga Portugal Betclic é declarado campeão nacional. Tanto a Liga Portugal Betclic como a Liga Portugal SABSEG são organizadas pela Liga Portugal, um órgão composto pelos clubes que disputam esses campeonatos profissionais, na respetiva temporada desportiva. A Liga Portugal organiza ainda uma terceira prova envolvendo os clubes profissionais, a Taça da Liga (Allianz Cup). A Liga Portugal Betclic é o escalão máximo do futebol português. Os 18 clubes participantes disputam um campeonato a duas voltas com o modelo de pontos corridos. São 34 jornadas, com a vitória valendo três pontos e o empate valendo um ponto. Além de se sagrar campeão nacional, o vencedor da I Liga é apurado diretamente para a fase de grupos da Liga dos Campeões UEFA. O segundo classificado da Liga Portugal Betclic vai disputar a terceira pré-eliminatória de acesso à Champions League, enquanto o terceiro e quarto classificados têm acesso às pré-eliminatórias das outras provas da UEFA, a Liga Europa e a Liga Conferência. As duas equipas que somarem menos pontos na Liga Portugal Betclic são despromovidas à Liga Portugal SABSEG, no final da temporada. Já o 16.º classificado vai jogar o Playoff de Manutenção com o terceiro classificado da II Liga.
 

Liga Portugal SABSEG
 

A II Liga é a outra competição profissional, correspondendo ao segundo escalão do futebol português. O modelo é o mesmo, um campeonato de 34 jornadas com 18 equipas participantes. No fim da temporada desportiva, o campeão da Liga Portugal SABSEG é promovido à I Liga, acompanhado do segundo classificado. O terceiro, como referido, vai jogar o Playoff de Manutenção. Os dois últimos classificados descem à Liga 3, com o 16.º classificado a jogar um Playoff de Manutenção com uma equipa apurada da Liga 3.


Número histórico de espectadores nas competições profissionais
 

Avaliado o contexto das ligas profissionais, podemos avançar para a leitura dos números. E há um número em particular que impressiona: 176.150. Esse foi o número de espectadores presentes nos estádios para assistir aos 18 jogos da segunda jornada dos campeonatos profissionais. Esses 176.150 espectadores fixaram um número histórico de assistências nas competições profissionais. Até esse momento, o recorde datava da temporada desportiva 2015/16, com um total de 163.131 adeptos nos estádios. Olhando para estes números com mais atenção, é possível notar o crescimento da Liga Portugal SABSEG. Claro que a I Liga foi a principal responsável por essa marca, com 146.082 espectadores. Só que essa foi somente o terceiro melhor registo nessa prova. No entanto, o número de 30.068 nesta segunda jornada da II Liga é um recorde para esse campeonato profissional.


Impacto do futebol na economia portuguesa
 

Estes números de sucesso escondem muitos outros, especialmente em matéria económica. Todos conhecemos a lei da procura e da oferta: quanto mais aumenta a procura por um produto ou serviço, mais o preço dele sobe. No caso do futebol profissional, estamos a falar de preços de patrocínios e acordos comerciais, por exemplo. Com mais adeptos nos estádios, os clubes profissionais têm mais força na hora de negociar investimentos e parcerias económicas. Porém, os benefícios não ficam limitados ao futebol profissional. Feitas as contas, toda a economia nacional ganha com o sucesso dos campeonatos profissionais. Quanto mais não seja, ao nível da tributação fiscal! Só na temporada 2021/22, a Liga Portugal e os clubes profissionais pagaram 214 milhões de euros em impostos, uma subida de 11,5% por comparação com a época anterior.


Peso do futebol profissional no PIB
 

Onde fomos buscar esses números? À sexta edição do Anuário do Futebol Profissional Português, produzido pela EY e Liga Portugal. O Anuário é um retrato do futebol profissional em diferentes vertentes e não passa ao lado das matérias económicas e financeiras. Na época 2021/22, o volume de negócios da Liga Portugal e dos clubes profissionais atingiu os 917 milhões de euros, muito acima dos 792 milhões da temporada 2020/21. Isso permitiu contribuir com 617 milhões de euros para o PIB (produto interno bruto), mais 12,2% do que no ano anterior.

Ou seja, na época desportiva 2020/21, o futebol português foi responsável por produzir 0,29% da riqueza nacional.


Postos de trabalho

Também de acordo com o Anuário, o futebol profissional criou um total de 3595 postos de trabalho nessa época desportiva. Nestas contas entram os 976 jogadores e os 252 treinadores dos clubes profissionais. No entanto, não podemos esquecer os 1454 funcionários que, na temporada 2020/21, trabalharam nas áreas de suporte, gestão e administração. Para pagar todo esse trabalho, o futebol profissional suportou encargos salariais de 319 milhões de euros. Mais uma vez, a principal fatia destes encargos está associada aos jogadores, com um total salarial de 238 milhões de euros.


Internacionalização do futebol português
 

Portanto, o futebol profissional é um setor económico cada vez mais influente no desempenho da economia portuguesa. Contudo, falta dar um passo para o futebol profissional assumir uma posição determinante na economia nacional: é preciso avançar com a internacionalização do futebol português. Outros campeonatos profissionais, beneficiando de diferentes contextos económicos, deram já esse passo e os reflexos são evidentes. Neste assunto, a liderança dos chamados ‘Big-5’ é inequívoca. Ano após ano, as ligas de Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França reforçam seu poderio económico e desportivo, aumentando as assimetrias para os outros campeonatos. O sucesso desse passo, no entender da Liga Portugal, depende da centralização dos direitos televisivos. Para crescer e aumentar a sua influência na economia portuguesa, o futebol profissional tem de ir buscar novos mercados para aumentar as receitas. Por isso, a internacionalização do futebol português é um dos eixos fundamentais do Plano Estratégico para 2023-27 da Liga Portugal.


Apostas desportivas
 

Além dessa influência direta, o futebol português beneficia a economia nacional pelo impacto que provoca em outros setores económicos. Nisto, não há melhor exemplo do que as apostas online. Como agentes económicos, as casas de apostas em Portugal são independentes dos clubes profissionais. Porém, o sucesso das apostas desportivas em Portugal depende quase em exclusivo do futebol profissional.

Por outro lado, é cada vez mais evidente a interligação entre esses dois setores económicos, criando sinergias valiosas. Além dos acordos entre clubes e casas de apostas, temos o exemplo da Liga Portugal. Em 2021, a Liga Portugal assinou um acordo com a Bwin para ‘naming sponsor’ da I Liga. Ou seja, a I Liga passou a ser oficialmente designada Liga Portugal Bwin. Passados dois anos, o futebol profissional voltou a mudar de patrocinador, agora uma casa de apostas diferente. Nesta época 2023/24, a I Liga tem a denominação de Liga Portugal Betclic.


Que impacto económico terá o futebol profissional no futuro?
 

Os dados mais recentes, publicados no Anuário do Futebol Profissional Português 2021/22, mostram um notável crescimento do contributo económico por parte da Liga Portugal e dos clubes profissionais. Porém, não podemos esquecer as limitações do mercado nacional. O futebol profissional, nomeadamente a I Liga, precisa de ser vendido no estrangeiro. A qualidade do futebol português é consensual. Há jogadores portugueses e treinadores portugueses nos melhores clubes do mundo. A Seleção Portuguesa de futebol foi campeã da Europa em 2016 e três anos depois ganhou a Liga das Nações. Mesmo os dirigentes portugueses, como diretores desportivos e gestores, são cobiçados pelos clubes mais poderosos. Porém, falta esse reconhecimento internacional da qualidade dos campeonatos profissionais em Portugal. No plano económico, a internacionalização do futebol português será determinante para melhorar o contributo deste setor para a economia nacional. O investimento tem sido feito. É notória a melhoria dos relvados e da iluminação dos estádios, criando melhores condições para a publicidade. A qualidade de todo o espetáculo será determinante na comercialização das transmissões dos jogos das ligas profissionais. De acordo com o Decreto-Lei n.º 22-B/2021, de 22 de março, a centralização dos direitos televisivos tem de ser implementada até à época desportiva 2028/29. O futebol profissional tem cerca de cinco anos para preparar essa mudança decisiva. Na temporada 2020/21, mais de 24 milhões de espectadores assistiram aos jogos da I Liga pela televisão. Juntando os espectadores da II Liga e da Taça da Liga, a exposição mediática do futebol profissional ascendeu a 1.866 milhões de euros. Um valor que será facilmente superado quando Portugal começar a vender os jogos do futebol profissional para outros mercados. Antecipando esse cenário, a conclusão é óbvia: a influência do futebol profissional na economia portuguesa será muito superior aos 617 milhões de euros que deu ao PIB na temporada desportiva 2020/21.


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